Alberta, 17 de Abril de 1009, 23:08.
Não havia uma alma viva no cais
de Alberta naquela noite. Ou pelo menos não deveria haver.
O silêncio da noite era quebrado
pelas colisões de lâminas, sons similares a rajadas de vento, e duas pessoas
discutindo. Um deles era um Mercenário louro de olhos azuis, cabelos espetados
e empunhando um par de katares. O mesmo tipo de arma era usado por seu
oponente, também Mercenário, possuía cabelos compridos, também louros, e olhos
castanhos, mas mantinha um sorriso arrogante, maníaco em seu rosto.
Os dois pararam de colidir seus
ataques com um instante, deixando o de cabelo espetado iniciar uma conversa
mais civilizada. – Então. Eu já tinha ouvido falar de você. Soube que está
tentando sujar o nome dos Rasen. Poderes interessantes os seus, mas
honestamente, você já encheu o saco.
O Mercenário de cabelos
espetados, trajando uma série de cintos e pequenas placas de metal por cima da
malha roxa, mantinha o discurso sem tirar seus olhos do oponente, trajando um
sobretudo de tom negro, encobrindo a malha da mesma cor e as várias correntes
passando por peitoral. Este ser estranho parecia estar se divertindo com o que
estava ocorrendo nas docas de Alberta.
Ele deu uma risada de escárnio ao
Mercenário. – Talvez eu possa resolver esse seu tom sério. Assim que a Corrupção passar por seu corpo, e pelo de
todos os humanos, você vai entender como as coisas realmente funcionam.
– Você
definitivamente é um cara surtado. – Respondeu o Mercenário, que então notou
que seu oponente sacou uma Asa de Borboleta. – O que foi? Cansou de se
divertir? “Saída do vilão pela esquerda”?
– Eu não
tenho tempo a perder com você. – Respondeu o homem. – Minha pesquisa é muito
mais importante.
E assim este homem misterioso
esmagou a Asa de Borboleta e sumiu rapidamente da vista do Mercenário, que nem
se dignou a tentar impedir ele, sabendo que não chegaria a tempo. Limitou-se a
seus próprios pensamentos, os quais poderiam ser ditos em voz alta devido à
solidão em que se encontrava nas docas escuras. – Você definitivamente parece
com alguém da família do Cal.
– Da mesma
família, certamente. Parentes próximos, não acho.
O Mercenário notou a voz vindo do
telhado de uma guarita. O homem de compridos cabelos azuis e olhos combinando a
dita cortina aparentava não ser nem um ano mais velho do que o Mercenário. O
homem prosseguiu com seu discurso. – O que achou de seu oponente, Johanne?
– Primeiro,
acho que já pode me chamar simplesmente de Johan. – Respondeu o Mercenário. –
Segundo, acho que você poderia me falar o que sabe sobre esse cara, já que diz
saber mais sobre ele do que eu. Ou o “grande” Eremes Guile teria problemas em
me passar essa informação?
O
nome não era de qualquer um. Eremes Guile era um dos seis heróis lendários da
Guerra Civil de Schwarzvald. Eremes possuía a reputação de ter completamente
renovado toda a estrutura da Ordem dos Assassinos, desde a Guilda dos Gatunos
até as guildas dos Mercenários e Algozes, praticamente reinventando todos os
seus ensinamentos. Assim como os outros membros do grupo conhecido como os Seis
Grandes, ele despareceu em 1003 em uma missão, logo depois que a guerra acabou,
e isso eventualmente resultou em um homem chamado Kidd sendo forçado a assumir
o posto que era dele e ficando nesse posto até hoje.
Eremes
então misteriosamente ressurgiu em 1008, sem explicações aparentes, para a
Ordem dos Assassinos, que naquele momento estava aceitando o mercenário Johanne
Garamus entre seus novos recrutas. Em Março de 1009, depois da Batalha de
Sograt, Johan havia entrado em uma cruzada para eliminar seus antigos
empregadores, os Escorpiões Vermelhos, e isso coincidiu com uma missão que
Eremes estava conduzindo. Os dois eventualmente se ajudaram para encontrar e
eliminar seu líder, um homem conhecido como Hank Scorpio. Com o desenrolar dos
eventos, era notável que Johan e Eremes acabassem forjando a fogo uma espécie
de amizade.
– Ele tem
usado a identidade de um membro escondido da Ordem, atendendo por Merjon Rasen.
– Respondeu Eremes. – Nós sabemos que Merjon atua
hoje em dia no país ao norte do continente e pediu que nem sequer deixássemos o
irmão dele sabendo do paradeiro.
– …Irmão? –
Johan ficou curioso.
– …Cal
Rasen. Vocês dois já devem se conhecer. – Respondeu Eremes, para a surpresa de
Johan. – O que eu não entendo é porque ele iria querer usar a identidade de
outra pessoa de sua linhagem. Mesmo os Belmonts se
diluíram bastante nos últimos 478 anos.
Johan absorvia calmamente a nova
informação. Ele já estava acostumado a aprender o que ocorria por trás das
cenas, tendo ele mesmo descoberto informações que ele não se dava ao trabalho
de passar a Cal ou qualquer outro membro da Ordem do Trovão. No entanto, ele
sabia que não podia perder tempo pensando, e arremessou uma nova questão a
Eremes. – Tem uma pequena coisa que tem me incomodado, sobre você. Não era pra
estar morto?
– Eu não acho que eu possa morrer a essa altura do
campeonato. – Respondeu Eremes. – Mas sim, eu estava morto. Mas parece
que alguém estava interessado em trazer a mim e aos outros cinco de volta. E até mais algumas pessoas, pelo visto.
– E então,
nos últimos dez meses, esses caras desaparecem completamente do mapa enquanto
você reaparece para a Ordem dos Assassinos. – Retrucou Johan. – Porquê eu não
consigo parar de achar isso bizarro?
– Cada um
tem seu propósito. O meu é retomar meu trabalho. – Respondeu Eremes.
– E os
espectros em Regenschrim? – Perguntou Johan, notando que a “ressurreição” dos
Seis Grandes não havia removido os espectros presentes no Laboratório de
Somatologia. – Se vocês estão vivos, porque eles ainda estão lá!?
– Difícil
descrever. A melhor explicação que eu teria é a quantidade de gente que virou
cobaia lá, virou algum tipo de espírito vingativo e acabou assumindo a forma da
coisa mais forte que existia por lá: nós.
A resposta de Eremes não
confortava Johan. O homem prosseguiu. – Além disso, o homem que nos reviveu não
tem intenções muito felizes. Por agora, sumir do radar é uma ótima ideia. Pelo
menos até entendermos totalmente nossa situação. A verdade é que ele queria que
trabalhássemos para ele. Como você viu, nem todo mundo aceitou a oferta.
Johan ao menos agora tinha
certeza de que o Seyren Windsor que viu quando resgatou aquele que seria o Omni
Ferus era o homem em pessoa, e não outro espírito louco. Johan poderia deduzir
dali que Seyren e os outros abriram caminho de dentro para fora de Regenschrim
usando apenas força bruta, o que motivaria a Corporação Rekenber a aumentar a
segurança e contratar agentes independentes, o que meses depois dificultaria
para a Ordem do Trovão na hora de resgatar o verdadeiro Cal Rasen. Johan levou
sua mente por um instante a Detto Brayde, um dos membros do clã que havia justamente
enfrentado Cal naquele evento, e então voltou para Seyren.
– Eremes.
Você sabe os paradeiros dos outros cinco? Seyren Windsor, por exemplo. – Johan
se sentiu motivado a fazer essa pergunta. No dia anterior um surto de mana
detectado por Gustave parecia fortemente ligado a Seyren, que Johan então
começou a investigar. Eremes sabia exatamente do que Johan estava falando.
Eremes suspirou em um tom de desaprovação que parecia perfeitamente dedicado ao
lendário cavaleiro.
– Aquele
idiota realmente vai fazer isso. – Respondeu para si mesmo.
– Defina
“isso”. – Indagou Johan.
– O líder da
Chama Prateada tem um prêmio na cabeça dele. – Eremes se referia a Kerd
Draloth, a quem Johan conhecia bem. – Seyren e Draloth se conhecem da época da
Guerra Civil. Em partes, pode-se dizer que Seyren ensinou o básico a ele. Se eu
lembro bem, Seyren acredita que Draloth tem envolvimento com a temporada dele
em Regenschrim. Acho que ele está indo atrás de Draloth neste momento.
– Que
maravilha. – Reagiu Johan, que olhou para o lado por um instante, e então
tentou voltar sua visão para Eremes, apenas para perceber que ele rapidamente
havia saltado para um guindaste próximo nas docas. – Sua tentativa de impressão
de Batman tá ruim. Tá deixando eu te ver antes de sumir.
– Eu tenho
uma proposta a você, Garamus. – Disse Eremes. – Você segue as migalhas de pão
que eu deixar, e eu vou avaliar se você é capaz de acompanhar meu ritmo. O que
me diz? Um Sicário treinando um Mercenário.
Sicário. Era a definição que
Eremes dava à sua atual classe, pois ele já não mais era um Algoz. As
habilidades de Eremes na verdade estavam muito além das de um Algoz, e Johan já
havia percebido isso.
Com a proposta dada, Eremes
apenas saltou do guindaste para os telhados próximos, sumindo na escuridão.
Johan estava novamente sozinho nas docas desertas de Alberta. Se encontrava
assimilando a coleção de informações que conseguiu, mas não conseguia deixar de
prestar atenção nas peças relacionadas a Seyren Windsor.
Foi quando o Mercenário
finalmente percebeu que Seyren talvez soubesse quem poderia levar ele até Kerd
Draloth. “Mas que droga.”, ele pensou.
“O cara vai
procurar pelo Cal.”
Com esse pensamento em mente,
Johan agora se dirigia ao norte, primeiro em direção à base da Ordem do Trovão
em Izlude, e então procurar por Cal.
A única informação que Johan
tinha sobre Cal no momento é que ele havia se embrenhado na tarefa de cuidar de
uma menina que havia resgatado na virada do último mês. Johan só poderia
esperar rastrear e encontrar Cal antes de Seyren, sabendo que as coisas não
iriam acabar bem se o lendário cavaleiro chegasse primeiro a ele.
Livro 2 – A Vingança de Seyren Windsor
Abertura: Departure – R.E.M.
Manhã de 19 de Abril de 1009,
Prontera.
Em meio à multidão de mercadores
em Prontera, passava Cal Rasen. Logo atrás dele, uma menina de cabelos
castanhos e o que parecia ser um uniforme de escola cinza e rosa tentava
acompanhar ele.
Irma estava acompanhando Cal há
mais de dez dias agora, mas mal conseguia manter contato ou mesmo acompanhar o
ritmo do Cavaleiro. Não ajudava o fato de que Cal parecia, na maior parte do
tempo, quase ignorante ao bem-estar da menina.
– Cal,
espera! Eu não tou conseguindo te acompanhar! – Cal mal prestou atenção na
menina tentando se espremer entre a multidão para encontrar o Cavaleiro, mas
diminuiu um pouco seu ritmo para que ela pudesse ao menos alcançá-lo.
Para a garota, Cal era a única
pessoa em quem ela podia confiar no momento. Para Cal, era quase um estorvo.
Ele mesmo ainda se recusava a entender a equação que eventualmente o levou a
desistir de matar a menina no Instituto e passar a cuidar dela. Na opinião
dele, Irma estaria muito melhor se ela estivesse com Palace Atros, que parecia
muito mais adequado para cuidar de outra pessoa do que alguém que lutava para
se virar sozinho.
O que também o levava a
questionar se ele era de fato a pessoa mais indicada a liderar um clã. Cal
estava sumido da Ordem do Trovão há mais de um mês, tendo sido forçado a deixar
o clã com uma pessoa de quem ele não gostava. Eventualmente Thelastris acabou
voltando e reassumindo a posição como co-líder… ao menos enquanto Cal resolvia
seus problemas. Mas Cal não havia voltado para Izlude como o combinado. Estava
evadindo a Corporação Rekenber com uma garota praticamente nas suas costas.
Depois de um tempo andando, os dois
agora se encontravam na Praça Central de Prontera, onde a concentração de
pessoas era menor do que a área sul da cidade. Irma já conseguia acompanhar
melhor o Cavaleiro, que finalmente havia parado diante de uma tenda com poções.
Com um Mercenário de cabelos louros espetados parado em frente. Cal se
aproximou e parou ao lado dele.
– Você
desapareceu. – Disse o Mercenário. – Felizmente, você ainda é rastreável.
– Thelastris
mandou você atrás de mim, Johan? – Indagou Cal, presumindo que ele estivesse ali
sob ordens dela, mandado para trazer Cal de volta pra casa. – Eu fiquei sabendo
do Detto.
– O
incidente que levou o desgraçado a enfrentar a Thelastris foi ele expulsando o
Mystelhain. – Respondeu Johan. – Não havia motivo para tal. Ela não concordou com
isso e o ego dele inflou de vez. Fico feliz que ela tenha tentado decapitar
aquele pedaço de merda.
Cal apenas deu uma expressão que
parecia concordar com o que Johan dizia. O Mercenário de olhos azuis continuou.
– Brayde e a Ordem do Trovão no entanto é o menor dos seus problemas.
Antes de continuar, Johan se
virou e notou a garota com o uniforme de Kiel Hyre com cores alteradas, olhando
para ele sem saber se era seguro se aproximar ou não. – Eu creio que ela seja a
causa de você ter sumido.
– É. – Cal
respondeu sem demonstrar qualquer inflexão emocional. – Ela mesma. Ela se chama
Irma Aloisius e tem medo de sair do meu lado agora que eu salvei ela de ser
transformada em um Eva ou coisa assim.
– Uh…
Prazer… Senhor Johan? – Irma não sabia como se comportar diante da situação.
Johan certamente levantou uma sobrancelha ao ouvir a educação com a qual ela
tinha se referido a ele.
– Antes de
qualquer coisa, 23 anos não é idade pra eu ser chamado de “senhor”. – Respondeu
Johan. – Outra coisa, você realmente deixa o Cal pisar em você dessa forma?
– Como
assim? – Questionou Cal, percebendo a questão de Johan.
– Se seu
trabalho é cuidar dela, está indo tão bem quanto seu trabalho como líder da
Ordem do Trovão, o que quer dizer que você está indo bem mal. Eu creio que
mesmo na condição dela, ela ainda seja uma pessoa com sentimentos, não?
– Ela é só a
carga de dinamite que Noah e Palace jogaram na minha direção. E eu só estou
preso com essa carga enquanto eu não encontrar um lugar seguro pra ela e deixar
claro pra Rekenber que eles mexeram com o cara errado. – Respondeu Cal,
lançando um olhar irritado a Johan.
Irma baixou a cabeça diante da
discussão dos dois. Era óbvio que Cal não queria estar cuidando dela. Ou mesmo estar
perto dela. Johan facilmente percebia isso. Cal continuou, lembrando Johan do
porquê ele tinha vindo até o Cavaleiro. – Você veio atrás de mim por um motivo.
Se não foi pela Thelastris, foi pelo quê então?
Johan bufou ao reparar que Cal
iria permanecer ignorante quanto a Irma, mas ainda tinha um trabalho a fazer: o
de avisar Cal. Ele logo voltou sua vista para o mercador e começou a dar seu
resumo dos eventos.
– Semana
passada, ao mesmo tempo que a bagunça do Detto, Gustave localizou uma
assinatura de mana incomum em Juno. Inicialmente presumimos que era o Omni
Ferus, mas depois de algumas análises percebemos que a assinatura de mana do
Ferus é muito diferente. Verifiquei alguns boatos pela Internet e em Juno, e o
que estão dizendo é que um Cavaleiro de cabelo branco esteve na cidade e matou
um Lorde treinado com um único ataque.
– Legião? –
Indagou Cal.
– Se fosse a
Legião, teriam sido bem menos sutis, e violentos. Também não teriam partido
para cima de um único tenente do Exército de Schwarzvald. – Continuou Johan. –
A descrição física do homem de cabelo branco bate com algo mais forte que um
Legionário.
Os olhos de Cal voltaram curiosos
para Johan no momento em que ele lançou a frase seguinte. – O homem descrito é
Seyren Windsor.
– Espera, o
quê? – Embora Cal soubesse que Johan havia avistado Seyren quando tirou Ferus
de Regenschrim, e mesmo somado com a informação que recebeu dez dias antes de
que Johan havia descoberto que Eremes Guile estava vivo, Cal estava tendo
problemas para absorver a nova informação.
– De fato,
informações indicam que todos os Seis Grandes estão vivos. Eremes parece ter a
resposta do que está acontecendo, mas ele não vai dar essa resposta tão
facilmente. Além disso, já sabemos o que Seyren tem feito e o que ele vai
fazer.
Cal parecia estar entendendo as
palavras de Johan, mas ainda demorava a processar o que estava ouvindo. Sua
mente havia entrado em estupor a partir do ponto em que Johan havia dito que
todos os Seis Grandes estavam vivos. Cal não sabia o que isso queria dizer. E
muito menos no que isso poderia implicar não apenas para ele, mas para todo o
mundo ao seu redor. Johan continuou seu resumo para Cal.
– Já deve
saber que Seyren tem um histórico com Kerd Draloth, não? – Comentou Johan.
– Espera, o
que o Kerd tem a ver com o que o Seyren quer? – Respondeu Cal, depois de um
curto silêncio onde sua mente voltava ao lugar.
– Seyren
quer vingança, e pelo visto já sabe que você teve contato com o Kerd.
– Ah. Droga.
– A reação de Cal era a prova de que ele entendeu o que Seyren Windsor, o mais
poderoso cavaleiro de sua era, poderia querer com Cal Rasen, um então
zé-ninguém que mal conseguiu o título de Barão de Rune-Midgard ao se envolver
com os eventos do Dämmerung no ano anterior. Seyren queria usar Cal para chegar
ao Kerd.
Irma ouvia quietamente os dois conversando,
até que seu corpo a direcionou para o sul da cidade, de onde várias pessoas
pareciam estar vindo com algum tipo de pressa. - ...Cal?
Cal e
Johan notaram a cena e perceberam que a pressa era na verdade medo.
– Não
esperava que isso fosse começar tão rápido. – Disse Johan. – E a menina parece
capaz de sentir mana também.
Cal havia reparado que ela sequer
estava olhando para a multidão correndo, mas sim diretamente para o local de
onde aquela multidão vinha. Naquele momento, a assinatura de mana assustadora
finalmente chegou a seu corpo, dando a ele a certeza de que Seyren Windsor
estava no recinto.
– Eu ganhei
na loteria do show de horrores, não foi? – Questionou o Cavaleiro a Johan.
– Pois é.
Acontece. – Disse ele enquanto os dois se posicionavam na frente de uma
paralisada Irma, esperando seu oponente chegar.
Minutos antes.
O homem de cabelos brancos e
armadura sofisticada jogava seus olhos castanhos sobre as armas que um mercador
estava vendendo. Um Espadachim desatento esbarrou contra ele, apenas para que
aquele homem desse um olhar de canto a ele, dizendo para tomar cuidado onde
anda. O Espadachim se desculpou e saiu andando… até que voltou, segundos
depois, e prestou atenção no rosto daquele homem. A expressão distraída daquele
jovem instantaneamente foi trocada por uma de horror.
– S-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s…
– O jovem gaguejava fortemente enquanto o homem já parecia saber o que estava
por vir e praguejava um “Droga” mentalmente.
– Me faça um
favor e não diga meu nome. – Respondeu calmamente o homem.
– …SEYREN
WINDSOR!! AQUI!! FUDEU!!!!
O mercador que estava em frente
ao homem, assim como todas as pessoas próximas que conseguiram ouvir o jovem
gritar o mais alto possível, com a voz falhando quase ao ponto de virar um tom
agudo, e então começar a correr por sua vida, haviam notado o homem imponente
ali, parado e visivelmente de mau humor. E então imediatamente o reconheceram
como algo que normalmente estaria esperando por lutadores muito mais
experientes no Laboratório de Somatologia. Não levou muito tempo até que uma
situação de pânico se formasse, com as pessoas imediatamente correndo na
direção oposta, seja para o norte da cidade, ou para o Portão Sul, onde eles
preferiam enfrentar as criaturas soltadas pelo Galho Seco de algum idiota que
queria passar o tempo matando coisas a lidar com um dos MVPs mais fortes de que
se tinha conhecimento atualmente.
Seyren, porém, permanecia parado,
e com um humor visivelmente deteriorado. – Grande palhaço. Conseguiu assustar a
cidade toda. Agora vão chamar toda a Guarda do Reino na minha direção.
Seyren olhou um pouco mais ao seu
redor até que finalmente notou na distância um trio que não estava correndo.
Após uma análise mental, Seyren percebeu que estava diante da pessoa que estava
procurando no meio daquele trio e passou a caminhar em sua direção. – Cal
Rasen.
Cal, assim como Irma atrás dele,
pareciam em choque diante do que estavam vendo. Irma pela mana que sentia; Cal,
definitivamente, por ser justamente a pessoa que ele um dia idolatrou, e que
agora parecia bastante disposta a arrancar seu couro agora que ele sabia que
tinha a chave para chegar a Kerd. E Cal sequer sabia porquê Seyren queria a
cabeça de Kerd.
Seyren
Windsor possuía uma reputação digna de uma lenda, assim como os outros membros
do grupo conhecido como os Seis Grandes: Eremes Guile, Margaretha Sorin, Howard
Alt-Eisen, Kathryne Keyron e Cecil Damon. Estes seis juntaram forças na Guerra
Civil de Schwarzvald em 1003 DG, pela formação da República, e foram cruciais para
o estabelecimento da República de Schwarzvald e o fim da monarquia no país.
Igualmente, cada um separado era um extremo prodígio em seu campo, criando
revoluções próprias em suas classes. Sabia-se que todos eles desapareceram
imediatamente após o fim da Guerra Civil, e que a Corporação Rekenber tinha
forte envolvimento com os eventos.
No
entanto, cinco anos depois, quando Johan invadiu o Laboratório de Regenschrim
para resgatar um capturado Cal, Johan e ele encontraram com um homem que
definitivamente era Seyren Windsor, e estava ajudando os dois a sair do
laboratório. Cal agora tinha a certeza de que era o homem em pessoa,
caminhando na direção dele, e de Johan e Irma.
Seyren,
em troca, via Cal como quase uma celebridade, devido à sua participação e desempenho
na Batalha de Sograt e seu papel em dirigir cinco mil pessoas contra o Demônio
de Morroc, forçando-o a fugir e abrir o estranho buraco no que sobrou do
Deserto de Sograt. Mesmo ainda sendo um mero Cavaleiro, Cal Rasen
definitivamente não era um mero humano, e Seyren estava bastante curioso em
saber o que tornava Cal tão diferente dos outros, e igualmente, dele.
Seyren parou a cinco metros do
trio, sem sacar arma nenhuma. Iniciou calmamente uma conversa. – Você deve ser
Cal Rasen. O principal responsável pela vitória de Midgard na Batalha de
Sograt.
– Puta que
pariu. – Era a única reação que Cal conseguia dar diante da situação em que se
encontrava. Não apenas estava de cara com um potencialmente invencível
oponente, mas este também reconhecia seus feitos recentes. – Você é mesmo de
carne e osso.
– Você
conhece uma pessoa de meu interesse. – Seyren foi direto ao assunto. – Ele tem
uma dívida de sangue a pagar comigo.
– Seu
interesse seria Kerd Draloth. – Respondeu Johan, assumindo o assunto. Enquanto
isso, Irma mantinha um olhar de apreensão voltado ao homem de cabelos brancos.
– Que interesse um Lorde do seu calibre tem na cabeça dele?
– Cavaleiro Rúnico. – Respondeu Seyren. – É essa a classe a
qual eu pertenço agora. E é definitivamente superior a qualquer coisa que um
Lorde possa arremessar na minha direção. Mesmo Leafar Belmont teria
problemas para lidar comigo. Ah, é. Belmont morreu
no mês retrasado.
– Que
divertido. Você está totalmente atualizado do mundo. – Disse Johan.
– Porquê
Draloth é tão importante pra você, Seyren? – Questionou Cal, reassumindo o
assunto.
– Retribuir a temporada que eu ganhei em Lighthalzen por
causa de suas ações. – Cal ficou confuso diante do que Seyren estava
dizendo. – Eu quero a localização atual dele. E eu agradeceria muito se você a
desse.
Cal não tinha uma resposta exata
para isso. No momento, ele sequer sabia por onde Kerd andava. Não o via desde
os eventos do ano anterior, onde ele o ajudou a se livrar da influência da
espada Talefing.
E para piorar a situação, Cal
estava bastante ciente de que Seyren poderia devorar os três ali com um único
golpe se assim quisesse. Seyren, no entanto, sabia quando escolher suas lutas.
– Darei 24 horas a você para localizar e entregar Draloth a mim. Veremos o que
você faz e quais decisões você toma a partir disso.
– O que
acontece se não gostar das minhas decisões? – Cal mantinha o olhar sério
lançado sobre Seyren, que parecia bastante confiante do que estava dizendo.
– Não me
interessa o que você faz ou não. Se resolver me desafiar pela vida do seu
“amiguinho”, sem nem mesmo saber o que aconteceu, vai descobrir o que me tornou
uma lenda na Cavalaria. – Seyren então deu as costas ao grupo, sabendo que não
demoraria muito até que membros da Ordem do Dragão finalmente aparecessem no
recinto para lidar com ele. – Amanhã, na Praça das Mãos em Prontera.
Seyren deu meia volta e saiu
andando. O trio, ainda parado diante do evento, ponderava sobre os eventos.
– Pretende
deixar ele chegar no Kerd? – Perguntou Johan.
– Eu queria
primeiro entender por quê ele é tão fixado no Kerd. – Para Cal, já era bem
visível que o homem que ele idolatrava como um menininho de doze anos não
estava mais lá. Ele conseguia notar um tipo ruim de determinação naqueles olhos
castanhos, incendiários. – Eu acho que preciso encontrar o Kerd. Espero que ele
esteja em Izlude.
– Vou tentar
encontrar o Eremes e ver o que consigo das migalhas de pão que ele deixa. –
Respondeu Johan, com um plano de contingência pronto.
– Isso não
me cheira bem. – Na verdade, parte nenhuma da história soava certa para Cal.
Como era possível que os Seis Grandes estivessem vivos? Ressurreição era mesmo
possível, quando ele mesmo já havia desistido de tentar trazer seus pais de
volta, tal qual um dia foi sua meta original? O mesmo Cal idealista de outrora
agora se via gradualmente transformado em uma pessoa cética.
– Se Eremes
Guile me quisesse morto, já o teria feito há duas semanas. – Johan manteve o
tom sereno, passando a caminhar na direção de onde Seyren veio. – Sugiro que
encontre Kerd em Izlude e faça a ele algumas perguntas sobre o Seyren. Eu cuido
da comoção aqui antes de seguir a brincadeira do Eremes.
Cal não tinha outra ideia que não
concordasse com o plano de Johan. – Irma, vamos.
– Oh,
desculpa! – O chamado de Cal finalmente trouxe a então inerte Irma à atenção. –
Então… Até mais, Senhor Johan.
Johan grunhiu internamente
enquanto a menina corria para junto de Cal novamente, para o incômodo do
Cavaleiro. Não gostava de referências formais. Se limitou a ver o Cavaleiro
sair com a menina para Izlude enquanto se preparava para interceptar os membros
da Ordem do Dragão que vinham verificar a comoção de cinco minutos atrás. –
Algo me diz que isso ainda nem é o começo.
OFF
É, eu demorei bastante pra postar isso aqui. Eu estava ocupado demais com um monte de coisa, mas eu comecei a aproveitar que o RagnaTales reviveu e eu tou colocando meu material lá pra poder colocar o material aqui também.
Também serve como prova de que não, eu não parei de escrever. E eu espero dessa vez ir adiante e inclusive terminar o projeto.