domingo, 23 de setembro de 2018

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 8: A Conta-Gotas


Alberta, 17 de Abril de 1009, 23:08.

Não havia uma alma viva no cais de Alberta naquela noite. Ou pelo menos não deveria haver.

O silêncio da noite era quebrado pelas colisões de lâminas, sons similares a rajadas de vento, e duas pessoas discutindo. Um deles era um Mercenário louro de olhos azuis, cabelos espetados e empunhando um par de katares. O mesmo tipo de arma era usado por seu oponente, também Mercenário, possuía cabelos compridos, também louros, e olhos castanhos, mas mantinha um sorriso arrogante, maníaco em seu rosto.

Os dois pararam de colidir seus ataques com um instante, deixando o de cabelo espetado iniciar uma conversa mais civilizada. – Então. Eu já tinha ouvido falar de você. Soube que está tentando sujar o nome dos Rasen. Poderes interessantes os seus, mas honestamente, você já encheu o saco.

O Mercenário de cabelos espetados, trajando uma série de cintos e pequenas placas de metal por cima da malha roxa, mantinha o discurso sem tirar seus olhos do oponente, trajando um sobretudo de tom negro, encobrindo a malha da mesma cor e as várias correntes passando por peitoral. Este ser estranho parecia estar se divertindo com o que estava ocorrendo nas docas de Alberta.

Ele deu uma risada de escárnio ao Mercenário. – Talvez eu possa resolver esse seu tom sério. Assim que a Corrupção passar por seu corpo, e pelo de todos os humanos, você vai entender como as coisas realmente funcionam.

Você definitivamente é um cara surtado. – Respondeu o Mercenário, que então notou que seu oponente sacou uma Asa de Borboleta. – O que foi? Cansou de se divertir? “Saída do vilão pela esquerda”?

Eu não tenho tempo a perder com você. – Respondeu o homem. – Minha pesquisa é muito mais importante.

E assim este homem misterioso esmagou a Asa de Borboleta e sumiu rapidamente da vista do Mercenário, que nem se dignou a tentar impedir ele, sabendo que não chegaria a tempo. Limitou-se a seus próprios pensamentos, os quais poderiam ser ditos em voz alta devido à solidão em que se encontrava nas docas escuras. – Você definitivamente parece com alguém da família do Cal.

Da mesma família, certamente. Parentes próximos, não acho.

O Mercenário notou a voz vindo do telhado de uma guarita. O homem de compridos cabelos azuis e olhos combinando a dita cortina aparentava não ser nem um ano mais velho do que o Mercenário. O homem prosseguiu com seu discurso. – O que achou de seu oponente, Johanne?

Primeiro, acho que já pode me chamar simplesmente de Johan. – Respondeu o Mercenário. – Segundo, acho que você poderia me falar o que sabe sobre esse cara, já que diz saber mais sobre ele do que eu. Ou o “grande” Eremes Guile teria problemas em me passar essa informação?

O nome não era de qualquer um. Eremes Guile era um dos seis heróis lendários da Guerra Civil de Schwarzvald. Eremes possuía a reputação de ter completamente renovado toda a estrutura da Ordem dos Assassinos, desde a Guilda dos Gatunos até as guildas dos Mercenários e Algozes, praticamente reinventando todos os seus ensinamentos. Assim como os outros membros do grupo conhecido como os Seis Grandes, ele despareceu em 1003 em uma missão, logo depois que a guerra acabou, e isso eventualmente resultou em um homem chamado Kidd sendo forçado a assumir o posto que era dele e ficando nesse posto até hoje.

Eremes então misteriosamente ressurgiu em 1008, sem explicações aparentes, para a Ordem dos Assassinos, que naquele momento estava aceitando o mercenário Johanne Garamus entre seus novos recrutas. Em Março de 1009, depois da Batalha de Sograt, Johan havia entrado em uma cruzada para eliminar seus antigos empregadores, os Escorpiões Vermelhos, e isso coincidiu com uma missão que Eremes estava conduzindo. Os dois eventualmente se ajudaram para encontrar e eliminar seu líder, um homem conhecido como Hank Scorpio. Com o desenrolar dos eventos, era notável que Johan e Eremes acabassem forjando a fogo uma espécie de amizade.

Ele tem usado a identidade de um membro escondido da Ordem, atendendo por Merjon Rasen. – Respondeu Eremes. – Nós sabemos que Merjon atua hoje em dia no país ao norte do continente e pediu que nem sequer deixássemos o irmão dele sabendo do paradeiro.

– …Irmão? – Johan ficou curioso.

– …Cal Rasen. Vocês dois já devem se conhecer. – Respondeu Eremes, para a surpresa de Johan. – O que eu não entendo é porque ele iria querer usar a identidade de outra pessoa de sua linhagem. Mesmo os Belmonts se diluíram bastante nos últimos 478 anos.

Johan absorvia calmamente a nova informação. Ele já estava acostumado a aprender o que ocorria por trás das cenas, tendo ele mesmo descoberto informações que ele não se dava ao trabalho de passar a Cal ou qualquer outro membro da Ordem do Trovão. No entanto, ele sabia que não podia perder tempo pensando, e arremessou uma nova questão a Eremes. – Tem uma pequena coisa que tem me incomodado, sobre você. Não era pra estar morto?

Eu não acho que eu possa morrer a essa altura do campeonato. – Respondeu Eremes. – Mas sim, eu estava morto. Mas parece que alguém estava interessado em trazer a mim e aos outros cinco de volta. E até mais algumas pessoas, pelo visto.

E então, nos últimos dez meses, esses caras desaparecem completamente do mapa enquanto você reaparece para a Ordem dos Assassinos. – Retrucou Johan. – Porquê eu não consigo parar de achar isso bizarro?

Cada um tem seu propósito. O meu é retomar meu trabalho. – Respondeu Eremes.

E os espectros em Regenschrim? – Perguntou Johan, notando que a “ressurreição” dos Seis Grandes não havia removido os espectros presentes no Laboratório de Somatologia. – Se vocês estão vivos, porque eles ainda estão lá!?

Difícil descrever. A melhor explicação que eu teria é a quantidade de gente que virou cobaia lá, virou algum tipo de espírito vingativo e acabou assumindo a forma da coisa mais forte que existia por lá: nós.

A resposta de Eremes não confortava Johan. O homem prosseguiu. – Além disso, o homem que nos reviveu não tem intenções muito felizes. Por agora, sumir do radar é uma ótima ideia. Pelo menos até entendermos totalmente nossa situação. A verdade é que ele queria que trabalhássemos para ele. Como você viu, nem todo mundo aceitou a oferta.

Johan ao menos agora tinha certeza de que o Seyren Windsor que viu quando resgatou aquele que seria o Omni Ferus era o homem em pessoa, e não outro espírito louco. Johan poderia deduzir dali que Seyren e os outros abriram caminho de dentro para fora de Regenschrim usando apenas força bruta, o que motivaria a Corporação Rekenber a aumentar a segurança e contratar agentes independentes, o que meses depois dificultaria para a Ordem do Trovão na hora de resgatar o verdadeiro Cal Rasen. Johan levou sua mente por um instante a Detto Brayde, um dos membros do clã que havia justamente enfrentado Cal naquele evento, e então voltou para Seyren.

Eremes. Você sabe os paradeiros dos outros cinco? Seyren Windsor, por exemplo. – Johan se sentiu motivado a fazer essa pergunta. No dia anterior um surto de mana detectado por Gustave parecia fortemente ligado a Seyren, que Johan então começou a investigar. Eremes sabia exatamente do que Johan estava falando. Eremes suspirou em um tom de desaprovação que parecia perfeitamente dedicado ao lendário cavaleiro.

Aquele idiota realmente vai fazer isso. – Respondeu para si mesmo.

Defina “isso”. – Indagou Johan.

O líder da Chama Prateada tem um prêmio na cabeça dele. – Eremes se referia a Kerd Draloth, a quem Johan conhecia bem. – Seyren e Draloth se conhecem da época da Guerra Civil. Em partes, pode-se dizer que Seyren ensinou o básico a ele. Se eu lembro bem, Seyren acredita que Draloth tem envolvimento com a temporada dele em Regenschrim. Acho que ele está indo atrás de Draloth neste momento.

Que maravilha. – Reagiu Johan, que olhou para o lado por um instante, e então tentou voltar sua visão para Eremes, apenas para perceber que ele rapidamente havia saltado para um guindaste próximo nas docas. – Sua tentativa de impressão de Batman tá ruim. Tá deixando eu te ver antes de sumir.

Eu tenho uma proposta a você, Garamus. – Disse Eremes. – Você segue as migalhas de pão que eu deixar, e eu vou avaliar se você é capaz de acompanhar meu ritmo. O que me diz? Um Sicário treinando um Mercenário.

Sicário. Era a definição que Eremes dava à sua atual classe, pois ele já não mais era um Algoz. As habilidades de Eremes na verdade estavam muito além das de um Algoz, e Johan já havia percebido isso.

Com a proposta dada, Eremes apenas saltou do guindaste para os telhados próximos, sumindo na escuridão. Johan estava novamente sozinho nas docas desertas de Alberta. Se encontrava assimilando a coleção de informações que conseguiu, mas não conseguia deixar de prestar atenção nas peças relacionadas a Seyren Windsor.

Foi quando o Mercenário finalmente percebeu que Seyren talvez soubesse quem poderia levar ele até Kerd Draloth. “Mas que droga.”, ele pensou.

O cara vai procurar pelo Cal.”

Com esse pensamento em mente, Johan agora se dirigia ao norte, primeiro em direção à base da Ordem do Trovão em Izlude, e então procurar por Cal.

A única informação que Johan tinha sobre Cal no momento é que ele havia se embrenhado na tarefa de cuidar de uma menina que havia resgatado na virada do último mês. Johan só poderia esperar rastrear e encontrar Cal antes de Seyren, sabendo que as coisas não iriam acabar bem se o lendário cavaleiro chegasse primeiro a ele.





Livro 2 – A Vingança de Seyren Windsor



Capítulo 2.1 – A Conta-Gotas 


Abertura: Departure – R.E.M.




Manhã de 19 de Abril de 1009, Prontera.

Em meio à multidão de mercadores em Prontera, passava Cal Rasen. Logo atrás dele, uma menina de cabelos castanhos e o que parecia ser um uniforme de escola cinza e rosa tentava acompanhar ele.

Irma estava acompanhando Cal há mais de dez dias agora, mas mal conseguia manter contato ou mesmo acompanhar o ritmo do Cavaleiro. Não ajudava o fato de que Cal parecia, na maior parte do tempo, quase ignorante ao bem-estar da menina.

Cal, espera! Eu não tou conseguindo te acompanhar! – Cal mal prestou atenção na menina tentando se espremer entre a multidão para encontrar o Cavaleiro, mas diminuiu um pouco seu ritmo para que ela pudesse ao menos alcançá-lo.

Para a garota, Cal era a única pessoa em quem ela podia confiar no momento. Para Cal, era quase um estorvo. Ele mesmo ainda se recusava a entender a equação que eventualmente o levou a desistir de matar a menina no Instituto e passar a cuidar dela. Na opinião dele, Irma estaria muito melhor se ela estivesse com Palace Atros, que parecia muito mais adequado para cuidar de outra pessoa do que alguém que lutava para se virar sozinho.

O que também o levava a questionar se ele era de fato a pessoa mais indicada a liderar um clã. Cal estava sumido da Ordem do Trovão há mais de um mês, tendo sido forçado a deixar o clã com uma pessoa de quem ele não gostava. Eventualmente Thelastris acabou voltando e reassumindo a posição como co-líder… ao menos enquanto Cal resolvia seus problemas. Mas Cal não havia voltado para Izlude como o combinado. Estava evadindo a Corporação Rekenber com uma garota praticamente nas suas costas.

Depois de um tempo andando, os dois agora se encontravam na Praça Central de Prontera, onde a concentração de pessoas era menor do que a área sul da cidade. Irma já conseguia acompanhar melhor o Cavaleiro, que finalmente havia parado diante de uma tenda com poções. Com um Mercenário de cabelos louros espetados parado em frente. Cal se aproximou e parou ao lado dele.

Você desapareceu. – Disse o Mercenário. – Felizmente, você ainda é rastreável.

Thelastris mandou você atrás de mim, Johan? – Indagou Cal, presumindo que ele estivesse ali sob ordens dela, mandado para trazer Cal de volta pra casa. – Eu fiquei sabendo do Detto.

O incidente que levou o desgraçado a enfrentar a Thelastris foi ele expulsando o Mystelhain. – Respondeu Johan. – Não havia motivo para tal. Ela não concordou com isso e o ego dele inflou de vez. Fico feliz que ela tenha tentado decapitar aquele pedaço de merda.

Cal apenas deu uma expressão que parecia concordar com o que Johan dizia. O Mercenário de olhos azuis continuou. – Brayde e a Ordem do Trovão no entanto é o menor dos seus problemas.

Antes de continuar, Johan se virou e notou a garota com o uniforme de Kiel Hyre com cores alteradas, olhando para ele sem saber se era seguro se aproximar ou não. – Eu creio que ela seja a causa de você ter sumido.

É. – Cal respondeu sem demonstrar qualquer inflexão emocional. – Ela mesma. Ela se chama Irma Aloisius e tem medo de sair do meu lado agora que eu salvei ela de ser transformada em um Eva ou coisa assim.

Uh… Prazer… Senhor Johan? – Irma não sabia como se comportar diante da situação. Johan certamente levantou uma sobrancelha ao ouvir a educação com a qual ela tinha se referido a ele.

Antes de qualquer coisa, 23 anos não é idade pra eu ser chamado de “senhor”. – Respondeu Johan. – Outra coisa, você realmente deixa o Cal pisar em você dessa forma?

Como assim? – Questionou Cal, percebendo a questão de Johan.

Se seu trabalho é cuidar dela, está indo tão bem quanto seu trabalho como líder da Ordem do Trovão, o que quer dizer que você está indo bem mal. Eu creio que mesmo na condição dela, ela ainda seja uma pessoa com sentimentos, não?

Ela é só a carga de dinamite que Noah e Palace jogaram na minha direção. E eu só estou preso com essa carga enquanto eu não encontrar um lugar seguro pra ela e deixar claro pra Rekenber que eles mexeram com o cara errado. – Respondeu Cal, lançando um olhar irritado a Johan.

Irma baixou a cabeça diante da discussão dos dois. Era óbvio que Cal não queria estar cuidando dela. Ou mesmo estar perto dela. Johan facilmente percebia isso. Cal continuou, lembrando Johan do porquê ele tinha vindo até o Cavaleiro. – Você veio atrás de mim por um motivo. Se não foi pela Thelastris, foi pelo quê então?

Johan bufou ao reparar que Cal iria permanecer ignorante quanto a Irma, mas ainda tinha um trabalho a fazer: o de avisar Cal. Ele logo voltou sua vista para o mercador e começou a dar seu resumo dos eventos.

Semana passada, ao mesmo tempo que a bagunça do Detto, Gustave localizou uma assinatura de mana incomum em Juno. Inicialmente presumimos que era o Omni Ferus, mas depois de algumas análises percebemos que a assinatura de mana do Ferus é muito diferente. Verifiquei alguns boatos pela Internet e em Juno, e o que estão dizendo é que um Cavaleiro de cabelo branco esteve na cidade e matou um Lorde treinado com um único ataque.

Legião? – Indagou Cal.

Se fosse a Legião, teriam sido bem menos sutis, e violentos. Também não teriam partido para cima de um único tenente do Exército de Schwarzvald. – Continuou Johan. – A descrição física do homem de cabelo branco bate com algo mais forte que um Legionário.

Os olhos de Cal voltaram curiosos para Johan no momento em que ele lançou a frase seguinte. – O homem descrito é Seyren Windsor.

Espera, o quê? – Embora Cal soubesse que Johan havia avistado Seyren quando tirou Ferus de Regenschrim, e mesmo somado com a informação que recebeu dez dias antes de que Johan havia descoberto que Eremes Guile estava vivo, Cal estava tendo problemas para absorver a nova informação.

De fato, informações indicam que todos os Seis Grandes estão vivos. Eremes parece ter a resposta do que está acontecendo, mas ele não vai dar essa resposta tão facilmente. Além disso, já sabemos o que Seyren tem feito e o que ele vai fazer.

Cal parecia estar entendendo as palavras de Johan, mas ainda demorava a processar o que estava ouvindo. Sua mente havia entrado em estupor a partir do ponto em que Johan havia dito que todos os Seis Grandes estavam vivos. Cal não sabia o que isso queria dizer. E muito menos no que isso poderia implicar não apenas para ele, mas para todo o mundo ao seu redor. Johan continuou seu resumo para Cal.

Já deve saber que Seyren tem um histórico com Kerd Draloth, não? – Comentou Johan.

Espera, o que o Kerd tem a ver com o que o Seyren quer? – Respondeu Cal, depois de um curto silêncio onde sua mente voltava ao lugar.

Seyren quer vingança, e pelo visto já sabe que você teve contato com o Kerd.

Ah. Droga. – A reação de Cal era a prova de que ele entendeu o que Seyren Windsor, o mais poderoso cavaleiro de sua era, poderia querer com Cal Rasen, um então zé-ninguém que mal conseguiu o título de Barão de Rune-Midgard ao se envolver com os eventos do Dämmerung no ano anterior. Seyren queria usar Cal para chegar ao Kerd.

Irma ouvia quietamente os dois conversando, até que seu corpo a direcionou para o sul da cidade, de onde várias pessoas pareciam estar vindo com algum tipo de pressa. - ...Cal?

Cal e Johan notaram a cena e perceberam que a pressa era na verdade medo.

Não esperava que isso fosse começar tão rápido. – Disse Johan. – E a menina parece capaz de sentir mana também.

Cal havia reparado que ela sequer estava olhando para a multidão correndo, mas sim diretamente para o local de onde aquela multidão vinha. Naquele momento, a assinatura de mana assustadora finalmente chegou a seu corpo, dando a ele a certeza de que Seyren Windsor estava no recinto.

Eu ganhei na loteria do show de horrores, não foi? – Questionou o Cavaleiro a Johan.

Pois é. Acontece. – Disse ele enquanto os dois se posicionavam na frente de uma paralisada Irma, esperando seu oponente chegar.




Minutos antes.

O homem de cabelos brancos e armadura sofisticada jogava seus olhos castanhos sobre as armas que um mercador estava vendendo. Um Espadachim desatento esbarrou contra ele, apenas para que aquele homem desse um olhar de canto a ele, dizendo para tomar cuidado onde anda. O Espadachim se desculpou e saiu andando… até que voltou, segundos depois, e prestou atenção no rosto daquele homem. A expressão distraída daquele jovem instantaneamente foi trocada por uma de horror.

S-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s-s… – O jovem gaguejava fortemente enquanto o homem já parecia saber o que estava por vir e praguejava um “Droga” mentalmente.

Me faça um favor e não diga meu nome. – Respondeu calmamente o homem.

– …SEYREN WINDSOR!! AQUI!! FUDEU!!!!

O mercador que estava em frente ao homem, assim como todas as pessoas próximas que conseguiram ouvir o jovem gritar o mais alto possível, com a voz falhando quase ao ponto de virar um tom agudo, e então começar a correr por sua vida, haviam notado o homem imponente ali, parado e visivelmente de mau humor. E então imediatamente o reconheceram como algo que normalmente estaria esperando por lutadores muito mais experientes no Laboratório de Somatologia. Não levou muito tempo até que uma situação de pânico se formasse, com as pessoas imediatamente correndo na direção oposta, seja para o norte da cidade, ou para o Portão Sul, onde eles preferiam enfrentar as criaturas soltadas pelo Galho Seco de algum idiota que queria passar o tempo matando coisas a lidar com um dos MVPs mais fortes de que se tinha conhecimento atualmente.

Seyren, porém, permanecia parado, e com um humor visivelmente deteriorado. – Grande palhaço. Conseguiu assustar a cidade toda. Agora vão chamar toda a Guarda do Reino na minha direção.

Seyren olhou um pouco mais ao seu redor até que finalmente notou na distância um trio que não estava correndo. Após uma análise mental, Seyren percebeu que estava diante da pessoa que estava procurando no meio daquele trio e passou a caminhar em sua direção. – Cal Rasen.

Cal, assim como Irma atrás dele, pareciam em choque diante do que estavam vendo. Irma pela mana que sentia; Cal, definitivamente, por ser justamente a pessoa que ele um dia idolatrou, e que agora parecia bastante disposta a arrancar seu couro agora que ele sabia que tinha a chave para chegar a Kerd. E Cal sequer sabia porquê Seyren queria a cabeça de Kerd.

Seyren Windsor possuía uma reputação digna de uma lenda, assim como os outros membros do grupo conhecido como os Seis Grandes: Eremes Guile, Margaretha Sorin, Howard Alt-Eisen, Kathryne Keyron e Cecil Damon. Estes seis juntaram forças na Guerra Civil de Schwarzvald em 1003 DG, pela formação da República, e foram cruciais para o estabelecimento da República de Schwarzvald e o fim da monarquia no país. Igualmente, cada um separado era um extremo prodígio em seu campo, criando revoluções próprias em suas classes. Sabia-se que todos eles desapareceram imediatamente após o fim da Guerra Civil, e que a Corporação Rekenber tinha forte envolvimento com os eventos.

No entanto, cinco anos depois, quando Johan invadiu o Laboratório de Regenschrim para resgatar um capturado Cal, Johan e ele encontraram com um homem que definitivamente era Seyren Windsor, e estava ajudando os dois a sair do laboratório. Cal agora tinha a certeza de que era o homem em pessoa, caminhando na direção dele, e de Johan e Irma.

Seyren, em troca, via Cal como quase uma celebridade, devido à sua participação e desempenho na Batalha de Sograt e seu papel em dirigir cinco mil pessoas contra o Demônio de Morroc, forçando-o a fugir e abrir o estranho buraco no que sobrou do Deserto de Sograt. Mesmo ainda sendo um mero Cavaleiro, Cal Rasen definitivamente não era um mero humano, e Seyren estava bastante curioso em saber o que tornava Cal tão diferente dos outros, e igualmente, dele.

Seyren parou a cinco metros do trio, sem sacar arma nenhuma. Iniciou calmamente uma conversa. – Você deve ser Cal Rasen. O principal responsável pela vitória de Midgard na Batalha de Sograt.

Puta que pariu. – Era a única reação que Cal conseguia dar diante da situação em que se encontrava. Não apenas estava de cara com um potencialmente invencível oponente, mas este também reconhecia seus feitos recentes. – Você é mesmo de carne e osso.

Você conhece uma pessoa de meu interesse. – Seyren foi direto ao assunto. – Ele tem uma dívida de sangue a pagar comigo.

Seu interesse seria Kerd Draloth. – Respondeu Johan, assumindo o assunto. Enquanto isso, Irma mantinha um olhar de apreensão voltado ao homem de cabelos brancos. – Que interesse um Lorde do seu calibre tem na cabeça dele?

Cavaleiro Rúnico. – Respondeu Seyren. – É essa a classe a qual eu pertenço agora. E é definitivamente superior a qualquer coisa que um Lorde possa arremessar na minha direção. Mesmo Leafar Belmont teria problemas para lidar comigo. Ah, é. Belmont morreu no mês retrasado.

Que divertido. Você está totalmente atualizado do mundo. – Disse Johan.

Porquê Draloth é tão importante pra você, Seyren? – Questionou Cal, reassumindo o assunto.

Retribuir a temporada que eu ganhei em Lighthalzen por causa de suas ações. – Cal ficou confuso diante do que Seyren estava dizendo. – Eu quero a localização atual dele. E eu agradeceria muito se você a desse.

Cal não tinha uma resposta exata para isso. No momento, ele sequer sabia por onde Kerd andava. Não o via desde os eventos do ano anterior, onde ele o ajudou a se livrar da influência da espada Talefing.

E para piorar a situação, Cal estava bastante ciente de que Seyren poderia devorar os três ali com um único golpe se assim quisesse. Seyren, no entanto, sabia quando escolher suas lutas. – Darei 24 horas a você para localizar e entregar Draloth a mim. Veremos o que você faz e quais decisões você toma a partir disso.

O que acontece se não gostar das minhas decisões? – Cal mantinha o olhar sério lançado sobre Seyren, que parecia bastante confiante do que estava dizendo.

Não me interessa o que você faz ou não. Se resolver me desafiar pela vida do seu “amiguinho”, sem nem mesmo saber o que aconteceu, vai descobrir o que me tornou uma lenda na Cavalaria. – Seyren então deu as costas ao grupo, sabendo que não demoraria muito até que membros da Ordem do Dragão finalmente aparecessem no recinto para lidar com ele. – Amanhã, na Praça das Mãos em Prontera.

Seyren deu meia volta e saiu andando. O trio, ainda parado diante do evento, ponderava sobre os eventos.

Pretende deixar ele chegar no Kerd? – Perguntou Johan.

Eu queria primeiro entender por quê ele é tão fixado no Kerd. – Para Cal, já era bem visível que o homem que ele idolatrava como um menininho de doze anos não estava mais lá. Ele conseguia notar um tipo ruim de determinação naqueles olhos castanhos, incendiários. – Eu acho que preciso encontrar o Kerd. Espero que ele esteja em Izlude.

Vou tentar encontrar o Eremes e ver o que consigo das migalhas de pão que ele deixa. – Respondeu Johan, com um plano de contingência pronto.

Isso não me cheira bem. – Na verdade, parte nenhuma da história soava certa para Cal. Como era possível que os Seis Grandes estivessem vivos? Ressurreição era mesmo possível, quando ele mesmo já havia desistido de tentar trazer seus pais de volta, tal qual um dia foi sua meta original? O mesmo Cal idealista de outrora agora se via gradualmente transformado em uma pessoa cética.

Se Eremes Guile me quisesse morto, já o teria feito há duas semanas. – Johan manteve o tom sereno, passando a caminhar na direção de onde Seyren veio. – Sugiro que encontre Kerd em Izlude e faça a ele algumas perguntas sobre o Seyren. Eu cuido da comoção aqui antes de seguir a brincadeira do Eremes.

Cal não tinha outra ideia que não concordasse com o plano de Johan. – Irma, vamos.

Oh, desculpa! – O chamado de Cal finalmente trouxe a então inerte Irma à atenção. – Então… Até mais, Senhor Johan.

Johan grunhiu internamente enquanto a menina corria para junto de Cal novamente, para o incômodo do Cavaleiro. Não gostava de referências formais. Se limitou a ver o Cavaleiro sair com a menina para Izlude enquanto se preparava para interceptar os membros da Ordem do Dragão que vinham verificar a comoção de cinco minutos atrás. – Algo me diz que isso ainda nem é o começo.




OFF


É, eu demorei bastante pra postar isso aqui. Eu estava ocupado demais com um monte de coisa, mas eu comecei a aproveitar que o RagnaTales reviveu e eu tou colocando meu material lá pra poder colocar o material aqui também.

Também serve como prova de que não, eu não parei de escrever. E eu espero dessa vez ir adiante e inclusive terminar o projeto.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Equilátero: Capítulo 8: Renascimento

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 8 - Renascimento


Café Delight, Izlude, 18:21.

O Café Delight era um ponto na área leste de Izlude onde as pessoas sempre costumavam passar. Para Zy, era um ponto onde ele podia vir com seus amigos e conversar sobre a vida. Foi para isso que ele havia chamado Johan ao local. Johan e Zy estavam sentados em uma das mesas de frente para a rua. Haviam passado as últimas horas ali, conversando sobre Cal e compartilhando um mínimo de experiência. Zy ficou sabendo por meio de Johan que Cal havia decidido ir enfrentar Omni Ferus sozinho, sabendo o risco que isso posava para sua vida.

- Johan, você não fica preocupado com o Cal? - Questionou Zy ao Mercenário louro de cabelos espetados.

- Cal é homem o bastante para tomar suas próprias decisões a essa altura do campeonato. - Disse Johan, calmamente, enquanto olhava para o entardecer chuvoso. - Estou mais preocupado com o que pode acontecer se Cal perder essa luta pro Ferus.

Zy se manteve quieto por alguns segundos, e então Johan prosseguiu. - A melhor ideia na qual posso pensar é colocar Seyren, Eremes, Sorin e Keyron para enfrentarem o Ferus. São os melhores em seus campos, saberão o que fazer com uma monstruosidade daquelas.

- ...E se o Cal vencer? - Zy tentou por um segundo acreditar que as chances de Cal eram iguais às de antes. Johan, porém, permaneceu inexpressivo. Só desviou seus olhos quando uma jovem de cabelos azuis e roupas exóticas apareceu correndo na direção deles. Johan reconheceu Elsa sem esforço.

- Aconteceu algo com a Irma? - Perguntou Johan para a "Alice", que parou na frente dele e de Zy.

- Irma... Ela disparou pra fora de casa, começou a correr desesperada pra fora de Izlude... - Elsa não fazia a menor ideia do que dizer a eles. Zy instantaneamente levou as duas mãos para sua testa. Johan, porém, se virou para outra direção, distraído.

- Fala sério, quando não é o Cal fazendo porcaria, é a Irma que-- Zy foi imediatamente interrompido por Johan.

- Isso é ruim. Muito ruim.

Zy se virou curioso para Johan. - ...O que é ruim? Diz logo, homem!

- A mana de Cal caiu vertiginosamente enquanto a de Ferus aumentou. Eu já esperava isso do Ferus... Mas o caso do Cal... Eu não estranharia se isso fosse ele à beira da morte. - O olhar de Johan ficou muito mais sério naquele momento. E então esse olhar parou na direção de Zy.

Foi o bastante para que Zy disparasse para fora da cafeteria. Johan seguiu o Templário, por instinto, correndo junto com ele. Elsa, cada vez mais confusa, se limitou a gritar na tentativa de que sua voz alcançasse os dois. - Espera! O que eu digo ao Kerd!? E se ele perguntar da Irma!?

- O Kerd vai saber logo! - Gritou Zy de volta, agora correndo com Johan na direção de onde a mana de Cal vinha... E esperando que essa mana não se esvaísse por completo.






O local em que Cal estava era totalmente alienígena a ele. Não havia nada lá. Não haviam pessoas. Não havia parede ou chão. Era só um imenso branco a seu redor.

Tudo o que Cal sabia naquele momento era onde estava antes de ir parar naquele lugar. Ele conseguia se lembrar de que havia um grande rombo em seu tórax, causado pela investida letal de seu oponente. No entanto, o espaço de tempo entre o momento em que ele caiu ao chão e o momento em que ele se viu naquele espaço estranho era algo que lhe escapava completamente à memoria.

- Então... Vai mesmo deixar tudo pelo qual lutou de mão beijada a esse animal? - A voz de Johan ecoou pelo lugar. Cal podia ouví-la, mas não podia ver a origem. Ou mesmo se mexer naquele momento. - Não foi por esse resultado que você desejou. Não é esse o seu destino. Porque está desistindo dessa vez, Cal?

Outra voz então tomou posse. Cal reconheceu novamente, mas dessa vez aparentava ser a de Zy. - Eu não entendo a sua lógica, Cal. Ou a forma como você age. Você sempre pensou e agiu por impulso. No que estava pensando quando você decidiu aceitar essa luta? Você pretendia voltar vivo dessa luta?

Outras vozes foram tomando forma ao redor de Cal, confuso. Ele estava aparentemente sendo torturado por essas vozes, criticando as decisões que ele havia tomado para essa batalha.

E então, uma outra voz, uma que ele não precisava nem pensar para reconhecer, interferiu.

- Eu pensei que você fosse me proteger.

Cal finalmente conseguiu se mexer. Se via de pé, diante da ilusão que tomava a forma da pessoa que ele mais se esforçou para proteger nos últimos dois anos. A forma de Irma Aloisius.

- Você espera mesmo que eu siga em frente sem você? Você espera que eu seja capaz de aceitar a sua morte, Cal? Me responda, pra que eu acompanhei você pelos últimos dois anos??

Os punhos de Cal fecharam. Seu olhar se afiou. Ele não sabia onde estava, mas pouco a pouco estava começando a juntar as peças. - Vocês todos são reflexos da minha consciência. Dos meus atos...

Ele hesitou por alguns segundos antes de prosseguir. - ...Dos meus erros.

- E você acredita que errou ao aceitar enfrentar seu inimigo?

A voz não vinha de Irma, ou de uma pessoa que ele conhecesse dessa vez. Cal identificou a fonte dessa voz; ele se virou para ver quem era.

Ele já a havia visto antes. Foi quando ele despertou em Regenschrim, quando seu clã havia vindo resgatá-lo. Era ela que havia tido contato com ele, trazendo-o de volta de um mundo de sonhos, para ser trazido à verdade horrível ao qual a Corporação Rekenber estava tentando submeter ele. Aquela Paladina estava finalmente diante dele, de uma forma que ele pudesse claramente reconhecer.

Cabelos louros, brilhantes, seu olhar trazia a ele a sensação de que ela esteve por mais vezes morta do que viva. Cal, porém, ainda não havia conseguido as respostas que queria. - Quem é você, afinal de contas? O que eu tenho de tão especial pra você?

- Você talvez tenha ouvido falar de mim. - Respondeu a Paladina. - Como membra do grupo responsável pela morte de seus pais.

Cal finalmente havia ligado ditas peças. Ele já ouviu falar dela. Por pouco ele não teve a chance de vê-la viva em 1008, durante o Dämmerung. Cal sabia perfeitamente quem era aquela pessoa, mas não queria pronunciar seu nome.

- O que me torna especial pra você a ponto de me receber na porta do Valhalla? - Perguntou Cal.

- Você não está no mundo dos mortos ainda, Cal. - Respondeu a Paladina. - Este é o Nexo, um lugar entre a vida e a morte. Pessoas não acessam esse lugar a menos que estejam prestes a morrer, e suas visitas são muito breves... A menos que alguém como eu possa prolongar.

Cal certamente se lembrava de ter sido recentemente empalado pela espada negra de Omni Ferus e estar praticamente morto. Como ele ainda não estava morto, porém, era algo além de sua própria concepção.

- Sua determinação me lembra a dele. Mas seu caminho está prestes a se tornar completamente oposto ao dele. - Disse a Paladina, de forma críptica.

- ...Ele? - Cal estava curioso.

- Belmont. - Ela respondeu. - Eu já o enfrentei pessoalmente. Ele também me mudou completamente.

- Jô Mungandr. De todas as pessoas, a ex-membra da Ruína veio me pegar na hora da minha morte. - Cal lembrava da história que Leafar contou a ele, sobre sua luta contra a Paladina em 1007. - Mas porquê eu? O que faz de mim uma pessoa interessante a você?

- Eu fui encarregada por uma pessoa de me certificar de que você se mantenha vivo. - Disse ela. - Agnus Rasen, mais especificamente.

Cal ficou paralisado ao ouvir o nome de seu pai. Tentou esboçar alguma reação, mas não conseguiu. O excesso de informação parecia ser demais para ele. - Isso... Mas como?

- Eu sou encarregada de proteger você do outro lado. O que significa que eu também estou encarregada de trazer você de volta de sua situação. - Respondeu a Paladina.

- ...Eu pensei que você tinha dito que eu estava, sabe, MORRENDO. - Respondeu Cal.

- Sua hora ainda não chegou, Cal. Você ainda precisa evoluir e encontrar seu destino. - Jô mantinha a mesma expressão séria, sem demonstrar nada além enquanto conversava com o impressionado Cal. - Se você passar pelo final desse confronto, tudo será mais difícil para você depois. Você poderia obviamente desistir... Mas já sabemos que você não está disposto a deixar algumas pessoas para trás.

- Irma. - Respondeu Cal.

- Freya. - Repeliu Jô, para a surpresa do Cavaleiro. Cal iria tentar responder, mas aquela resposta perfurou sua própria lógica. - O destino dela causará o seu. O que fará com isso, ninguém sabe. Para seu pai, o resultado final é a única coisa que importa. Ele certamente está interessado em saber que Cal Rasen sairá dos eventos que se seguirão.

- Isso não faz sentido. Eu mal a conheço direito. - Reagiu Cal, sério.

- E já a trata com a mesma importância que a Irma. - Respondeu Jô, ainda mantendo o tom calmo.

Os dois ficaram em silêncio por um momento. Cal estava confuso com tudo o que estava ouvindo, com a sensação de que várias coisas ruins estavam prestes a acontecer.

No entanto, isso o colocava de volta à situação em que ele estava. Seu corpo físico estava no chão, com um grande rombo em seu torso causado por uma enorme espada de cristal negro. E seu nêmesis estava pronto para aplicar o golpe final. Mesmo se algum milagre o levantasse dali, Cal não tinha condições de vencer Omni Ferus.

- Você não é mais o garotinho que planejava ser um herói. - Disse a Paladina. - Você é um homem lutando para descobrir seu destino. E sua presente luta pode ser vencida. Por um preço.

- De que preço estamos falando? - Cal indagou à Paladina.

- Nada que você já não pretendesse fazer. O que eu vou fazer vai apenas acelerar o processo todo. - E assim que a Paladina estendeu sua mão, a aura verde de Cal começou a fluir para fora de seu corpo.

Cal estava por alguma razão completamente ciente do que estava acontecendo. - ...Você vai me reviver?

- Não. Você vai transcender. - Respondeu Jô, conforme a mana de Cal explodia para fora de seu corpo e ele sentia sua consciência sendo puxada de volta ao mundo real. - Seu pai confia em você, Cal. Você pode criar seu próprio futuro. Por um tempo vai se esquecer disso... Mas eu sei que você vai encontrar o caminho de volta.

- Toda essa fé numa pessoa que você mal conhece. - Disse Cal enquanto ainda podia ouvir sua própria voz em meio à explosão de sons e luzes.

- Assim como a sua em Freya.

Foi a última coisa que Cal ouviu antes de finalmente deixar o Nexo e sentir a vida voltar completamente a seu corpo.


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- E agora, o momento MAIS ESPERADO da história! O SEU FIM!

O Construto ergueu sua espada, visando decapitar seu oponente com apenas um golpe. Para o Cavaleiro, só lhe restava a morte.

Ou então, muito mais do que isso.

Os olhos de Cal abriram para a surpresa de Ferus, e uma luz vinda do céu acertou violentamente seu corpo.

- O quê!? - A expressão de descrença no rosto de Omni Ferus enquanto luz verde engolia tudo ao seu redor dizia tudo.

E assim que o enorme salão foi engolido pela luz, foi a vez de toda a cidade de Osthreinsburg ser tomada pelo sol verde que se formou no local, substituindo o céu da noite e ameaçando engolir o rio ao norte e o Monte Mjölnir ao leste.



OFF


Okay, já era hora de botar atividade nesse blog.

sábado, 25 de novembro de 2017

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 7 - O Estrago Está Feito

Abertura: The Noose – The Offspring




1.7 – O Estrago Está Feito



Havia acabado. Dimitri estava derrotado e sua missão tinha sido arruinada. Valna, derrotado por Palace, tinha fugido também, antes que seu irmão pudesse fazer mais alguma coisa e piorar sua situação.

Irma finalmente se sentiu compelida a se aproximar de Cal, que largava o que sobrou da Claymore ao chão. – Cal…

Eu acho… – Cal disse, com um tom cansado – ...Que eu vou precisar de um descanso.

Cal disse aquilo com uma expressão completamente exausta, antes de desabar quase em cima de Irma, sendo prontamente amparado por Palace. Vera, vendo a cena, olhou para Palace, que já entendia a situação toda e deu um conselho a ela. – Quer uma dica? Você precisa sumir.

Vera deu uma expressão triste a Palace, mas entendia o que precisava fazer. Deu as costas ao trio sem precisar responder. No entanto, antes de partir, Irma chamou sua atenção. – Espera.

Vera se virou por um instante, para ver uma igualmente exausta Irma dar um olhar gentil a ela. – Obrigada. Por ajudar.

Vera não respondeu. Apenas se virou e voltou a correr na direção da savana. Irma permaneceu olhando naquela direção, até que Palace dirigiu a palavra a ela enquanto colocava Cal em suas costas.

Bem, todo mundo está cansado, e você está encardida e esfarrapada da maratona infernal que passou. O que me diz de irmos todos pra alguma enfermaria e esperar o seu cavaleiro sem armadura brilhante acordar? – Palace já havia notado que Cal havia enfrentado toda a bagunça sem sequer uma armadura para proteger ele. Cal estava oficialmente munido apenas de uma jaqueta e calça jeans e uma camiseta azul-piscina como vestimenta.

O comentário de Palace fez Irma finalmente reparar que seu uniforme de escola estava bastante danificado dos dias na Fábrica de Robôs e a bagunça com a Legião. Olhou envergonhada para o ex-Legionário. – Uh, eu… Tá.

Beleza. Vamos ver se dá pra entrar em um hospital em Lighthalzen sem a gente se meter em mais encrenca. – Disse Palace, agora carregando Cal de volta para a cidade, com Irma o acompanhando.




Lighthalzen, 8 de Abril de 1009, 9:35.

Cal havia finalmente aberto os olhos depois de quatro dias dormindo como uma pedra. Levou dez minutos até que ele recobrasse totalmente a consciência e percebesse que estava em uma cama de hospital. Forçou seu corpo para cima, sentindo o peso dele, colocou a mão direita à cabeça, ajustando sua visão, e finalmente olhou para a esquerda, reparando Palace sentado ao lado dele.

Nada mau, Rasen. Não é qualquer um que consegue fazer Dimitri Markolevich sentir medo. – Disse Palace, reagindo ao Cavaleiro recém-acordado e tentando entender onde estava.

Pera, tem coisa fora do lugar aqui. – Cal estava fazendo esforço para voltar ao mundo real. – Eu sei que eu abati o Dimitri e caí inconsciente, mas como eu cheguei aqui? E cadê a Irma? E a maluca que resolveu trocar de lado?

Palace prontamente apontou o dedo na direção oposta da cama e Cal se virou, notando uma menina de cabelos castanhos e roupas novas, adormecida de bruços sobre a cama.

Por algum motivo, ela parece gostar do uniforme de escola e se recusou a escolher qualquer roupa que não parecesse com ele. – Disse Palace, o que fez Cal reparar que ela estava basicamente vestindo o mesmo uniforme de Kiel Hyre, agora com as cores trocadas por rosa na camisa e gravata e cinza na saia e colete. – E do jeito que ela tá grudando em você, parece que agora ela é a sua carga.

Espera aí, como assim “a minha carga”? – Reagiu Cal, frustrado – Eu só concordei de tirar ela da Fábrica de Robôs.

Espera mesmo deixar ela nas mãos do seu amiguinho Spikier depois de tudo que aprendeu? – Respondeu Palace. – Você viu o lance todo, Cal. Vai ser praticamente jogar ela nas mãos da Rekenber.

Cal olhou novamente para ela, dormindo tranquilamente. Deu um suspiro frustrado. – …Como é que eu consegui uma trolha dessas pra mim mesmo? Ah é, eu ia matar ela pra resolver tudo e então tive essa epifania de que não ia resolver nada.

Palace entendia o discurso frustrado de Cal. Ele mesmo não sabia o que fazer com a própria vida, e agora tinha uma pessoa de quem cuidar. Cal então decidiu mudar de assunto. – Então… Desertor agora, né? Creio que a Vera esteja no mesmo caso.

Ela vai ter que sumir do mapa por um bom tempo enquanto seu clã lida com o caso do Dimitri. – Completou Palace.

E o da Edith. – Tentou completar Cal, antes de notar que Palace iria corrigi-lo. – Não?

Dimitri tem outros planos. E aposto que ele já está trabalhando pra tirar a Edith Stein do caminho.

Mas ela é a líder da Legião, ele não pode simplesmente…

– …Observe e aprenda. – Disse Palace, já ciente do que aconteceria. Cal estava entendendo a situação e não gostando nada do que ouvia.

– …É tão ruim assim? – Perguntou ele a Palace.

É. – A resposta foi monossilábica e precisa. Cal apenas se limitou a olhar enquanto Irma finalmente acordava e percebia que seu salvador estava consciente.

Eu entrei bem nessa agora. Bom trabalho, Cal”, pensava enquanto a menina avançou nele para um abraço, deixando-o confuso. “Bom trabalho mesmo.”




Aeroporto de Lighthalzen, 15:23.

Cal já havia se despedido de Palace. Assistia o ruivo de dreadlocks deixar o Aeroporto enquanto se preparava para decidir seu próximo destino. Ao seu lado, estava sua nova companhia, Irma. Mas naquele momento, ele estava absorvendo toda a sequência de eventos da última semana.

Cal havia acabado de ganhar pontos negativos com Dimitri Markolevich, que obviamente era muito mais poderoso do que o que já havia sido demonstrado em Portus Luna. Sua empreitada a favor de Noah Spikier agora lhe rendeu uma companhia com a qual ele mesmo não sabia lidar. E no instante em que ele tentou contatar o mesmo, descobriu que ele havia sumido do radar da Ordem do Trovão, para a fúria de Thelastris do outro lado da Pedra do Eco pela qual ele se comunicava.

Você definitivamente quis deixar essa trolha toda pra mim, não foi, Noah? – Disse a si mesmo, enquanto Palace sumia de sua vista no meio da cidade mais moderna de Schwarzvald. Não deixou de reparar que a menina de cabelos castanhos a seu lado agora prestava atenção nele. – Bem, estamos juntos nessa agora. Não posso te garantir que vai estar mais segura comigo do que estava no Instituto.

Se o que eu ouvi essa semana inteira é verdade… – Respondeu Irma – …Então eu não estou segura em lugar nenhum mesmo.

Faz sentido. – Cal suspirou, reparando na situação. Agora que ele estava protegendo o protótipo mais valioso da Rekenber, ele seria um alvo. E sem dúvida nenhuma, ela também seria. E como Noah a havia criado para ser nada mais que uma mera adolescente, ela não estava condicionada ao propósito da Corporação: ser a arma de combate perfeita. – Ela já não gostou de saber do Noah. Que maravilha vai ser quando eu falar pra ela que estampei um alvo na minha própria cara.

Cal então foi em direção ao balcão, comprar a primeira passagem para Juno, e de lá, ele voltaria para Izlude. Sinalizou com a mão, indicando para que Irma o seguisse. – Você vem?

Sim! – Ela respondeu, cheia de energia, correndo em direção a Cal. Cal, por sua vez, se perguntava como as coisas iriam acontecer dali em diante.

Para Cal, a viagem tinha acabado de começar, mas iria durar muito mais do que só um passeio de Aeroplano.






Duas pessoas observavam Cal e Irma conforme o Cavaleiro pegava suas passagens e se dirigia para as docas para pegar o voô para Juno.

Uma delas era um homem, passando dos trinta anos. Cabelos prateados repartidos, olhos castanhos brilhantes. A armadura que trajava era adornada com cristais azuis em diversos pontos, com uma beca que parecia uma cruza entre uma capa e um sobretudo. A outra pessoa era uma mulher de longos cabelos louros e olhos verdes azulados, aparentando ser pouco mais velha do que Cal. O casaco longo cinzento que ela vestia tinha fileiras de cristais enrugados em seus ombros.

Ela havia acabado de chegar ao local e reparou que o homem de armadura estava com os olhos fixos em Cal. – …Então, é ele? O garoto que ajudou Draloth.

Pelo visto, é ele mesmo. Já juntei informação suficiente sobre ele. – Disse o homem. – O descendente de Malachias Rasen. Herdeiro de um potencial incrível. O Blitzritter.

Ele reparou que eram apenas ele e a maga conversando. – Pelo visto, os outros não quiseram mesmo vir.

Cada um possui propósitos próprios – Respondeu a mulher – e uma de nós escolheu trabalhar com o inimigo até onde sabemos. E nenhum desses quatro está interessado na sua busca por vingança.

E você está? – Reagiu o homem.

A mulher com quem Draloth é casado é responsável pelo que me aconteceu. – Os olhos bege demonstravam uma expressão gélida naquela mulher – Sua busca por Draloth coincide com a minha busca por ela.

O olhar daquele homem agora fitava o vazio. Lembrava de tudo o que passou e do porque estava na sua busca. A mania era visível em seus olhos por um instante. – Cinco anos. Consciente. Mesmo depois de morto. Destruíram minha sanidade em vida, e o que sobrou dela estava indo embora depois de morto. Eu devo tudo isso a Draloth. Foram as ações dele que me colocaram lá.


Contanto que não pule em mim ou em outras pessoas quando acabar… – A mulher resolveu pegar seu próprio rumo, deixando o homem com seus pensamentos – …Faça como quiser, Seyren Windsor.

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Bem, com isso, o remake do Livro 1 da Jornada de Cal Rasen está completo e postado no fórum. Existe mais umas coisas adicionais que eu gostaria de colocar, e eu certamente estou louco pra começar a trabalhar no remake do Livro 2.

Tem mais umas coisinhas em que eu ando trabalhando a minha cabeça, mas fiquem tranquilos, eu não devo abandonar o blog de novo tão cedo.

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 6 - Humano, Artificial

Abertura: The Noose – The Offspring



1.6 – Humano, Artificial



Irma permanecia forçadamente inerte, olhando para o confronto que estava prestes a começar na sua frente. Vera, sob ordens de Dimitri, estava mantendo vigia na garota, mas já havia percebido que ela não iria sair do lugar. Resolveu avisá-la por via das dúvidas.

Não se mexa. Por sua segurança. – Disse a Legionária. – Não seria legal entrar na linha de fogo dos dois. E eu estou muito curiosa pra saber se Cal Rasen é a pessoa perigosa que dizem que ele é.

Irma não reagiu, mas tinha entendido perfeitamente o aviso. Estava exausta, física e mentalmente. Estava apavorada demais para fazer qualquer movimento brusco de qualquer jeito. Não tinha escolha senão assistir o confronto prestes a começar.

Não é ótimo? – A expressão furiosa de Dimitri mudou para uma maníaca e ele abriu os braços como quem esperava um abraço – Vai poder lembrar meu nome quando chegar no Valhalla.

Desculpa, eu não tou no plano de morrer hoje. – Respondeu Cal, ao passo em que Dimitri finalmente começava a vir em sua direção à toda velocidade. Cal esquivou do primeiro ataque dele e preparou um Impacto de Tyr, do qual Dimitri não teve dificuldades de se esquivar. Cal então tentou aplicar uma rasteira contra o ruivo, apenas para acertar o ar enquanto este saltava e lançava sua pesada espada na direção do Cavaleiro. Cal, porém, conseguiu reagir a tempo, impulsionando-se para longe de Dimitri enquanto a força de seu ataque explodia a terra ao raio de meio metro dele.

Cal olhava para seu oponente, surpreso. Não esperava que ele realmente fosse tão forte sem sequer se transformar em “meio-MVP”. Seus pensamentos se voltaram para esse fato.

Ele fez isso só com metade de sua própria força. Dá medo de imaginar o que ele faz com o poder todo”, pensou Cal enquanto via Dimitri voltar para a postura ereta e novamente apontar sua espada para o Cavaleiro. “E lá vamos nós”, sua mente proferiu de novo antes de resumir o combate.



Não longe dali, ocorria o confronto dos Irmãos Atros. Os dois avançaram imediatamente um contra o outro, desferindo golpes velozes de suas Zanbatôs. A velocidade dos golpes fazia os dois parecerem quase borrões, e era um atestado da grande força dos dois. Não demorou até que os dois chocassem suas espadas e as forçassem uma contra a outra, permitindo que os irmãos se encarassem.

Então, como o Rasen te convenceu? – Indagou Valna – Mulheres, amigos ricos, piscinas de dinheiro?

Engraçado pensar que a vida é uma micareta dessa forma, Valna. – Respondeu Palace. – Isso ou você abdicou do senso comum no momento em que entrou na Legião!

Os dois destravaram de suas posições, e Valna respondeu ao comentário do irmão saltando para cima dele e preparando seu ataque, a lâmina da Zanbatô envolta em uma estranha fumaça preta. – GARRA DE GALLION!

A técnica secreta que Valna usou era reconhecida por Palace como uma Break Art. A técnica usava energia espiritual do usuário para gerar todo tipo de efeito e habilidades sob uma arma e causar dano devastador.

Palace se jogou para o lado enquanto o golpe de seu irmão acertava o chão, levantando poeira e deixando uma grosseira marca na terra. Resolveu usar sua própria Break Art, gerando uma esfera de energia na ponta de sua Zanbatô, que era girada acima da cabeça cheia de dreadlocks de Palace antes de ser apontada para o irmão como um canhão disparando seu projétil. – SEPARAR!

Valna se desviou para o lado e viu a esfera de energia passar a centímetros de seu rosto, e então bater em um dos pilares que enfeitava o portão da fronteira, derrubando-o como um tronco de uma árvore.

Chegamos mesmo a isso, então. – Valna já não tinha mais o olhar de escárnio do começo da luta. Agora esse olhar era de desprezo. Palace certamente considerava o sentimento mútuo, já sabendo que seu irmão não iria recuar.

Se a sua definição de justiça é ferir e matar pessoas, é, nós realmente chegamos a isso. – Respondeu Palace – Infelizmente, a minha definição de justiça é frear caras como você. Mesmo se você for meu irmão e eu tiver que matar você!

A paciência de Valna tinha oficialmente acabado. Resolveu finalmente começar a se transformar em Atroce. Palace não perdeu tempo em fazer o mesmo. E assim, os dois começaram a crescer pelugem pelo corpo todo, suas cabeças achatando e começando a ganhar um formato canino, seus corpos ganhando massa e músculos conforme o tamanho dos dois praticamente dobrava.

Aventureiros próximos que tinham parado de atacar Ventos da Colina para assistir ao combate dos dois imediatamente começaram a perceber porquê aqueles pássaros começaram a fugir e se tocaram de que era hora de fazer o mesmo. Corriam assustados por suas vidas, enquanto os Irmãos Atros, que nem mesmo sabiam que tinham atraído uma plateia, se encaravam, suas transformações completadas.

Atroce contra Atroce. O que me diz, Palace? – Desafiou Valna, apontando a espada para o irmão e vendo o sentimento sendo reciprocado pela mesma ação. E assim o combate voltava a ocorrer, agora com força total.



Cal, enquanto isso, não estava conseguindo se ajustar ao nível de força de Dimitri. Ele via seu oponente se esquivar facilmente de seus ataques, como se estivesse brincando com o Cavaleiro.

Dimitri lançou um Impacto de Tyr com ataques giratórios, os quais Cal conseguiu se esquivar. Este tentou se aproveitar da inércia gerada e tentou prosseguir com um chute giratório na cabeça de Dimitri, apenas para ter sua perna direita agarrada e ser girado por duas voltas completas antes de ser arremessado para longe. Cal conseguiu usar seus braços para manobrar seu corpo e impedir uma colisão violenta, usando seus braços como freios para o movimento. No entanto, Cal via Dimitri avançando de novo, pronto para um Golpe Fulminante. Enquanto Cal conseguiu rolar para o lado para evitar um acerto direto, o impacto do ataque, com a mesma onda de choque presenciada no começo da luta, tratou de fazer Cal ser arremessado na mesma direção para qual tinha esquivado e se viu forçado a novamente aparar sua queda.

Vera conseguia perceber a tensão e a forma como Cal estava em grande desvantagem contra o sub-líder da Legião. Não conseguia entender como Cal tinha coragem de enfrentar alguém tão mais forte do que ele.

Dimitri ficou parado dessa vez, vendo Cal se levantar com alguma dificuldade, ofegando pelo ritmo frenético ao qual estava sendo forçado. Sentiu-se então na vontade de conversar com sua presa.

Não entendo a sua motivação, Rasen. Está totalmente em desvantagem, mesmo com o poder que tem, mas quer continuar insistindo, tudo por uma criatura criada em laboratório por um grupo de cientistas. – Zombou Dimitri.

Cal começou a perceber um paralelo entre seus propósitos e os de Dimitri. Horas atrás, o plano dele era simplesmente matar Irma e chamar aquilo de dia. Agora, vendo o discurso de Dimitri… – ...Engraçado. Consigo ver em você o tipo de merda que passava pela minha cabeça horas atrás. Toda a bagaça com o Leafar deve ter mesmo ferrado com a minha cabeça como a Thelastris diz.

E ainda assim, se dispõe a arriscar sua vida por uma menininha sem memórias ou sequer uma definição de vida antes de nós aparecermos. – Continuou Dimitri, ignorando o discurso de Cal a si mesmo. – Ela não possui valor, Rasen! Ela sequer é um ser vivo! Não há a menor diferença entre a razão da existência dela e as nossas motivações!

O discurso de Dimitri foi então recebido com uma risada de escárnio de Cal. – ...O que te faz ter essa linha retardada de pensamento?

Dimitri foi pego de surpresa pelas palavras de Cal, que prosseguiu. – Você realmente espera que ela aceite o que você impor a ela só porque ela foi feita num laboratório? Sinto muito, eu acho que você meio que se recusa a entender como “livre arbítrio” funciona. Por acaso aplicou esse mesmo discurso no meu clone quando recrutou ele? Ou na senhorita Vera quando transformou ela na sua escrava?

A expressão de Dimitri mudou ao ouvir aquilo. Estava tratando as palavras de Cal como uma piada de péssimo gosto.

Sua visão das pessoas me parece ser a de brinquedos que se usam uma vez e então são jogados fora. Não é assim que funciona. O nome dela é Irma, pra começo de conversa, palhaço. – Dimitri ficou furioso ao ser insultado pelo Cavaleiro dessa forma, lançando um olhar mortal sobre Cal – E o que eu vi dela é o suficiente pra dizer que ela é tão humana quanto eu sou.

Irma ouvia o discurso do Cavaleiro e finalmente se levantou da posição que estava, com Vera tentando freá-la de novo. – Não se mexa, não viu que isso ficou perigoso demais?

Mais do que vocês todos já tornaram? Ele é a ÚNICA pessoa que se dispôs a me tirar do perigo!!! – Finalmente reagiu, com lágrimas nos olhos. Vera ficou muda e chocada com a resposta. Era como se a resposta de Irma finalmente tivesse mostrado a ela o quão omissa ela se tornou em relação a tudo.

Cal continuava encarando Dimitri e o desafiando verbalmente. – Não vou sair de Portus Luna sem a garota, e certamente não vou ser barrado por um pedaço de bosta que não possui bússola moral nenhuma!

Dimitri finalmente havia deixado de lado a postura de caçador e agora estava prestes a jogar como o exterminador que era. – Você. Vai. SANGRAR!!!

É o que todo maluco que tenta me enfrentar diz antes de acabar sangrando. – Respondeu Cal, enquanto Dimitri finalmente pulava em sua direção. A Claymore de Cal começava a liberar carga elétrica, sinal de seu próprio poder. No entanto, ele já sabia o que estava vindo em sua direção e resolveu pular para trás. Dessa vez, Cal conseguiu evitar a onda de choque, muito maior do que a mostrada ao longo da luta. Dimitri havia acabado de deixar uma cratera de três metros de diâmetro no chão… com um soco.

Ao pousar no chão, Cal percebeu o quão encrencado estava. – Ah. Então é disso que você é feito.

Dimitri se levantava do golpe que havia acabado de executar, o olhar maníaco dirigido a Cal. – Você tem determinação, mas isso ainda não vai te salvar de ter cada osso de seu esqueleto quebrado.

Vamos lá, Cal, tem que ter um jeito de virar a porra da mesa”, pensava enquanto via Dimitri começar a caminhar lentamente em sua direção, certamente sem freio nenhum a essa altura do campeonato.

Dimitri agora apontava o braço direito para Cal e preparava uma esfera de energia negra que serviria de projétil contra o Cavaleiro, que ainda tinha uma resposta sarcástica ante o novo problema. – Ih, virou Dragon Ball Z agora. Fodeu.

Dimitri, porém, teve seus planos interrompidos quando uma forte descarga elétrica o acertou por trás, pegando tanto ele quando Cal de surpresa. Dimitri se virou furioso para o novo oponente, já sabendo quem era. – Vai pagar caro por isso, Abelha Rainha.

Vera havia acabado de interferir na briga entre Cal e Dimitri, e certamente era a favor de Cal. A resposta sarcástica dela apenas enfurecia Dimitri ainda mais. – Pois é, eu certamente vou me arrepender de largar o emprego de secretária de um bando de frouxos que quer acabar com a humanidade. Veja só como eu estou sofrendo por isso.

E quem falou que você vai sentir qualquer coisa? – Dimitri ainda tinha a carga de energia escura em sua mão, e imediatamente a disparou contra Vera… O que acontecia de também ser a direção geral onde Irma estava. A informação chegou rápido o bastante em Cal.

Vera esperava ser obliterada pelo ataque, mas ficou chocada quando viu que, ao invés de acertar seu alvo pretendido e o que quer que estivesse atrás, a esfera de energia foi cortada por uma Claymore que prontamente estilhaçou, restando apenas uma lâmina feita de eletricidade em seu lugar. Seu usuário parecia furioso o bastante e encarava Dimitri com um olhar maníaco, enquanto ela via o projétil explodir como uma bomba, vinte metros à sua direita.

Irma e Vera estavam olhando para Cal Rasen, que havia, em uma fração de segundo, se jogado na direção do projétil e repelido o ataque quase como se não fosse grande coisa. Dimitri, por sua vez, não sabia se ficava surpreso ou ainda mais enfurecido. Ou com medo, agora que a fúria nos olhos de Cal estava preenchendo o ambiente todo. Assim como sua mana verde, saindo de seu corpo como flocos de luz e eletricidade.

Eu certamente vou fazer você sentir mais dor do que jamais sentiu na sua vida. – Respondeu Cal à frase de Dimitri proferida a Vera.

Acha mesmo que esse show de luzes e eletricidade pode me deter, moleque? – Dimitri continuava desafiando verbalmente seu oponente, mesmo ciente do que já estava acontecendo.

E quem falou que isso é parte do Kit Thor? – Respondeu Cal – Qualquer pessoa com conhecimento suficiente pode acender a própria mana e aumentar a própria força com isso. Um truque bem clichê que acaba por ser bem efetivo em casos como o seu.

O momento de Cal era visível o bastante para fazer com que os Irmãos Atros, brigando ainda à vista, parassem por um momento, prestando atenção na luz verde que preenchia o local.

Irma sentia o calor vindo daquela luz, a energia saindo dele era praticamente confortável a ela e opressora a Dimitri. Ela tentou pegar um dos flocos de energia com a mão quando se aproximou dela. – É tão… Lindo…

– …Foi com isso que ele causou a vitória na Batalha de Sograt… – Reagiu Vera, completamente em choque. Ela sabia do resultado final da batalha que deixou Morroc em uma situação muito ruim, forçando-o a fugir de Midgard. – Essa energia. Foi a mesma que ele acendeu nas cinco mil pessoas que sobreviveram à Batalha de Sograt!

Já passou da hora de igualar essa luta, Dimitri. A partir desse momento, você vai ver 100% da minha capacidade. E quem sobreviver a isso vai ter que dar à Edith a triste notícia de que você agora não passa de uma pedrinha na minha estante quando eu acabar. – Avisou Cal antes de apontar a espada de eletricidade contra Dimitri.

Ora… SEU…!!! – Dimitri não conseguia mais conter sua própria fúria e avançou a toda velocidade contra Cal, que já esperava pelo ataque, olhos fixos no que agora era sua presa.

Isso mesmo, idiota. Vem cá receber um pouco de HUMANIDADE!



Essa é a conclusão lógica da manifestação de mana. Ele realmente dominou isso. – Palace dizia a si mesmo enquanto ele e seu irmão olhavam abismados para o combate entre Cal e Dimitri.

Essa energia… Toda essa energia… – Valna não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Cal certamente não tinha toda essa força quando o Legionário o enfrentou na Fábrica de Robôs. Ele se virou para Palace, que ainda lembrava que estava em confronto com o próprio irmão. – …Você ensinou isso a ele, não foi?

Não tive tempo, e além disso, acho que ele já sabia fazer isso há meses. – Respondeu Palace. – Falando em “fazer isso”, acho que já chegou a hora de dar fim nessa sua palhaçada.

Os Atros tinham conhecimento de como liberar mana de seus corpos passados de geração em geração, e Valna e Palace eram aparentemente os últimos herdeiros desse conhecimento. No entanto, Palace sabia que sua família não era a única com tal capacidade. E sabia que era por causa disso que Dimitri tinha chamado os dois para a Legião não muito depois do massacre de sua família. O que levou Palace a se perguntar se Dimitri não tinha sido o responsável por tal massacre.

Não que isso importasse agora. Nesse momento, Valna exalou uma mana negra, podre, reflexo de sua alma corrompida. Palace respondeu, exalando uma mana laranja, viva de seu corpo, ao instante em que seu irmão avançou, Palace respondeu com outra Break Art, um movimento com o qual pretendia encerrar a luta:

SINAL SAGRADO!

Um círculo mágico com runas sagradas apareceu no chão, tendo como centro o local onde Palace plantou sua Zanbatô, e Valna se viu sendo prontamente jogado para o alto pela descarga de luz ascendente que o acertava. Por alguns instantes, a luz branca saindo daquela onda de energia sagrada ofuscou totalmente o que aconteceu no lugar, até ceder e então revelar Valna caindo ao chão com força total, quicando e sentindo todo o impacto da queda, já somado ao dano do ataque de seu irmão.

Valna não tinha mais forças para continuar transformado e reverteu à sua forma humana, assim como Palace, que estava exausto do combate. Este reagiu calmamente ao evento antes de voltar seus olhos ao confronto entre Cal e Dimitri. – Bem melhor agora. Com você no chão.



O avanço de Dimitri foi freado quando seu soco acertou apenas o ar, apenas para ser recebido com um soco na boca do estômago, cortesia de Cal. – Você ainda não entendeu o aviso, não foi?

O punho de Cal imediatamente abriu e revelou em seu palmo uma esfera de eletricidade, a qual ele disparou à queimarroupa contra o estômago de Dimitri, fazendo-a atravessar seu corpo violentamente. Mesmo que isso não tivesse aberto um buraco no torso do Legionário, ele agora sentia toda a dor que Cal disse que o faria sentir. E era bastante evidente no choque em seu olhar.

Bem-vindo ao Admirável Mundo Novo, campeão. – Dizia Cal, enquanto Dimitri se dobrava de dor ante o ataque que acabou de sofrer – Quer tentar de novo?

Essa frase fez com que toda a razão sumisse do cérebro de Dimitri, agora oficialmente obcecado em acabar com Cal. No instante em que Dimitri urrou com toda a sua força e tentou jogar um violentíssimo cruzado de direita no Cavaleiro, este respondeu com um gancho de esquerda em seu queixo. Dimitri apenas sentiu seu corpo dobrar para trás com a força do golpe, mas ele se recompôs e tentou avançar de novo em Cal, apenas para ser recebido com um chute, mais uma vez no estômago.

Dimitri deu alguns passos para trás enquanto Cal permanecia no lugar, olhando seu oponente. – Não é mais tão homem agora, não é?

Dimitri tentava entender o que estava acontecendo. Dois minutos atrás, ele tinha o combate inteiro na palma da mão. Agora, Cal estava completamente dominando ele. Se isso se prolongasse mais, acabaria muito mal para ele.

Des… Desgraçado… – Dimitri, ofegante, encarava seu oponente. – Você pode ter vencido essa luta… Mas não pense que eu não vou me adaptar a isso!

Antes que Cal pudesse preparar o próximo ataque, Dimitri esmagou uma Asa de Borboleta em sua mão. – E quando eu voltar, eu juro, Rasen, eu vou esmagar você.


Dimitri teve tempo de proferir essas palavras antes de sumir completamente do local diante de Cal. A mana do Cavaleiro, então acesa, finalmente apagou, revelando uma pessoa exausta pelo árduo combate. Havia acabado. Dimitri voltou para o Quartel-Geral da Legião sem Irma, sem Vera, ou sequer sem levar a cabeça de Cal como prêmio de consolação.

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Pronto, o clímax do Livro 1. Quase no fim do começo da Jornada do Cal, estamos começando a colocar o setting pros eventos dos Livros seguintes.